Como o outro me vê: uma reflexão sobre insegurança

Por Mateus Gottardello Guirelli, CRP: 06/147194

Este texto tem como objetivo refletir sobre a dimensão do olhar do outro e como conviver com isto. Sabe-se que o olhar do outro é importante para a formação de nós mesmos, do que somos, ou seja, como dizemos na psicologia, constitutivo da subjetividade. É importante entender este olhar num para além do sentido da visão, como aquilo que institui a imagem que desejo que o outro veja de mim. Este olhar refere-se a construções sobre o que é idealizado, o que deve ser alcançado e desejado pelas pessoas, o que devo ser para pertencer a sociedade.

O sujeito é formado a partir de suas relações interpessoais e de regras e padrões que existem na cultura. Dentro destes parâmetros, podemos citar, por exemplo, a estética. Esta é a perspectiva do que é belo, padronizado e, conjuntamente, também o que é feio, o diferente, aquilo que deve ser evitado, o estranho. Acrescento que a estética não existe apenas no plano da imagem física dos corpos, mas também sobre maneiras de viver, aquilo que é saudável, como também aquilo que deve ser evitado.

A perspectiva de tentar responder o que o outro enxerga de nós está destinada ao fracasso, visto que não temos controle do pensamento do outro, não podemos controlar o que este outro vê. Porém, acho interessante o movimento de reflexão na seguinte pergunta, como uma auto-análise: o que eu acho que o outro vê de mim? O que eu vejo sobre mim mesmo?

Nestes questionamentos, redirecionamos a pergunta de um outro que não temos controle e colocamos como ponto de partida a nossa própria perspectiva em relação ao que gostaríamos que o outro visse, bem como o nosso próprio senso de estética. Nossas próprias padronizações e diferenciações entre o belo e o feio, nossas idealizações.

Iniciei este texto trazendo a palavra convivência, pois acredito que a palavra aceitação traga algumas problemáticas que demonstrarei a seguir. Nesta mesma perspectiva estética do mundo, produzimos também alguns referenciais e pontos a serem alcançados, em certo sentido, com o sentimento de dever de alcançá-los. Porém, não percebemos como muitas vezes isto nos afeta negativamente.

Prefiro pensar em um sentido de convivência com a condição, pois retira a perspectiva de um objetivo idealizado, aquele em que quando eu alcançar, não terei mais problemas com uma devida questão. O trabalho sobre aceitação, é, sem dúvida, importante. Porém, há que se cuidar para que não caia na perspectiva impositiva de uma plenitude, fechando as vistas para os pensamentos hostis sobre a doença,que, estes sim, também precisam de expressão e elaboração.

A questão é que nossos pensamentos, nossos desejos, em suma, nossa subjetividade, aquilo que nós somos, é dinâmico. Assim sendo, almejar um referencial de plenitude pode trazer problemas futuros, como a culpa de ainda não ter chegado lá, a culpa de não ter aceitado a condição.

Desta forma, a palavra convivência assegura o movimento constante em relação a condição e a saúde mental, alcançando a perspectiva dinâmica da subjetividade. 

Alguns dias você está lidando melhor com as situações e em outros não. E está tudo bem! 

A aceitação plena de um estado emocional frente uma condição me parece inviável, mas a convivência, o constante trabalho em relação as suas próprias emoções, sentimentos, e sobre a estética, a forma que enxergamos o mundo, parece-me um objetivo mais favorável.

Assim, sugiro também a transferência deste sentido de convivência para a condição de como lidar com o olhar do outro. É preciso aprender a conviver com o olhar deste outro que segrega, tendo a perspectiva de que ele não é aquele que dita as regras estéticas e nem quem somos, estando ele também nesta lógica social. Mesmo que este olhar faça parte de nossa constituição, ele não inclui a dinâmica das vivências. Assim como não tenho controle sobre o que o outro pensa, este outro não tem controle sobre o que eu penso e trabalho, sobre o que vivi e o que almejo ser. Todos nós temos nossos próprios fantasmas.

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